Campeonato Brasileiro de Boulder – Primeira Etapa

No final de semana passado rolou no Rio de Janeiro a primeira etapa do Campeonato Brasileiro de Boulder, organizado pela Adrena com o apoio da CBME. Como não devia deixar de ser, fui lá conferir a competição e também entrei pra participar. No total foram mais de 100 atletas inscritos nas mais diversas categorias, o que garantiu um espetáculo bonito pra quem passou pela praça General Tibúrcio na Urca. O muro montado pela Adrena estava fantástico, com seus 4,5 metros de parede com a base muito bem protegida por colchões. Negócio tava gringo!

O muro do campeonato brasileiro, a galera aguardando e o Pão de Açucar ao fundo.

No sábado rolaram as categorias amadoras, da qual participei. Eram cerca de 40 atletas no masculino e feminino, divididos em 5 categorias: Adulto A, Adulto B, Sênior, Infantil e a Paraclimbing. Eu participei na Adulto B, juntamente com mais 6 escaladores.

Cheguei pra competir ainda com receio de me machucar novamente, então não estava com grandes pretensões de conseguir qualquer resultado importante. Minha ideia era de escalar sem pressa, testando os boulders que não piorassem a lesão. Mas meio que por milagre, no dia da competição eu não senti absolutamente nada, e escalei quase como se estivesse 100%. Os problemas estavam divididos em 4 categorias: brancos (valendo até 1.000 pontos), os amarelos (valendo até 5.000), os azuis (até 10.000) e os pretos (até 20.000 pontos).

De início resolvi aquecer em alguns brancos, que estavam aparentemente na faixa do V1/V2. Fiz o primeiro com facilidade e ia aquecer em mais um ou dois, mas com a minha torcida do lado de fora gritando pra eu “escalar de verdade”, acabei pilhando e entrando em seguida em um dos amarelos. O primeiro tinha uma passagem de pinças pequenas bem nojenta, mas que consegui dominar logo na primeira tentativa, caindo na próxima agarra por não ter visto uma agarra de pé. Tentei mais uma vez esse e mandei. Me senti bem, e resolvi realmente ficar nos amarelos. O próximo também mandei de segunda, mas já com o gostinho amargo de não ter mandado em flash. O mesmo acontecendo com o terceiro, mais uma vez por negligenciar uma agarra de pé. Já tinha 3 amarelos no bolso, somando perto dos 10.000 pontos.

Entrei para tentar o amarelo que parecia ser o mais difícil, na parede que tinha uma dominada (mas que pediam pra não dominar). Entrei umas 4 vezes nele, caindo sempre no mesmo lugar. A essa altura já tinha tentado 5 dos 6 amarelos e mandado 3. Resolvi entrar no último que me restava com a intensão de mandar de flash. Fui bem confiante e sólido nos movs e saiu meu único boulder amarelo flash. Com 4 boulders amarelos anotados, ainda faltava algo de pontuação maior pra fechar as 5 maiores pontuações. Eu queria tirar aquele branco dali. As opções eram o amarelo mais difícil, que eu já tinha tentado demais, um outro amarelo que terminava num bote imenso, e um azul, que parecia ser o mais mandável de todos, principalmente depois do beta encontrado pela galera de fazer um “figure four” no agarrão. Resolvi tentar a sorte no azul.

O mais difícil dos boulders amarelos. Cai sempre nesse lance...
O único que saiu de flash...

Logo na primeira tentativa acertei o  bote no agarrão, e fiz bem o “figure four”, chegando na penúltima agarra. Só faltava o bote pra agarra final. Primeira tentativa e chão. Mas ter chegado tão perto de mandar e a ótima pontuação do boulder, me fizeram continuar tentando. Tentei mais umas 4 ou 5 vezes, todas indo no chão na hora do bote. Uma das vezes cai até de cara, beijando os colchões e atestando a qualidade da proteção (aprovado galera!). Não senti nada! O fiscal do boulder ao lado já tava de saco cheio de me ver caindo ali do lado dele o tempo inteiro. Fui pra mais uma tentativa e dessa fez fiz diferente. Mudei a pegada da agarra lá em cima e consegui esticar e fazer o mov estático. Azulzinho no bolso, mais 6000 pontos pra cartela. Com esse eu já estava satisfeito com a minha pontuação, mais ainda assim resolvi tentar o amarelo do bote. Deu umas 4, 5 pegas nele e apesar de achar que poderia mandar, resolvi deixar pra lá e ficar com o que tinha conseguido: 18.200 pontos, achando que isso podia me dar até o primeiro lugar na minha categoria.

Durante a minha participação no amador, observei bastante a galera escalando, e era bonito só de assistir. O Raphael Nishimura, único participante da categoria Paraclimbing, deu um show a parte. Fez todos os boulders que o Belê tinha preparado pra ele e em seguida partiu para os brancos e foi mandando. Sempre com a torcida da galera. Ver também a pequena Julia, aluna do Centro de Escalada Jacarepaguá, escalando era muito inspirador. Ela mandou muito bem nos boulders que entrou, com uma movimentação de fazer inveja a muito escalador mais velho. Acabou levando um susto no final, quando caiu do final do boulder de costas nos colchões, mas não foi nada demais. Outra figurinha que me chamou a atenção, foi o participante mais jovem, que tinha 7 anos de idade. Um garotinho lorinho, que chegou acompanhado da mãe. Depois do primeiro boulder dele, que ele não conseguiu mandar, ele sentou e frustrado, começou a chorar. Tirou as sapatilhas e não quis mais participar. Fiquei com dó dele, e quase chego pra conversar com ele e dar uma força, mas não fiz isso. Acho que só faltou isso pra ele, um escalador falar pra ele que cair era normal, que todo mundo cai.

Uma hora depois do final do festival, saiu o resultado, e quase como esperado, fiquei em segundo, 1200 pontos atrás do primeiro colocado da Adulto B. Em terceiro ficou o Léo (Paulista) Medeiros, que mora no Rio Grande do Norte, o que deixou o podium da Adulto B quase todo do nordeste. O Adulto B feminino teve a escaladora Debora Hashiguchi em primeiro e Anaceli Vieira em segundo, as duas vindo do Rio Grande do Norte. No geral, contabilizando todas as categorias, eu teria terminado em 12º lugar. Nada mal dentro de um total de 32 escaladores competindo. Mas sai de lá com a certeza que dava pra ter ido melhor, e vou tentar isso em uma próxima etapa, provavelmente a etapa em Belo Horizonte.

O pódium da categoria Amador Adulto B (Foto de Debora Hashiguchi)
Pódium Feminino do Amador Adulto B

No domingo foi a vez dos profissionais  nas categorias master. Não dá nem pra contabilizar a quantidade de gente forte participando, vou citar apenas os favoritos. No masculino, os óbvios favoritos eram  Felipe Camargo e Cesar Grosso, Jean Ouriques bem próximo dos dois. No feminino os dois maiores nomes eram Thais Makino e Anna Shaw, com a Thais como grande favorita. Felipinho estava saindo de uma lesão no dedo, mas ainda assim não encontrou muita dificuldade pra passar pra final, algo que foi menos difícil ainda para Cesar Grosso. Depois de mandar apenas 5 boulders, todos na maior pontuação, ele deu por terminada a sua participação no festival e foi aguardar o resultado e descansar para a final. Uma das grandes atrações da competição foi o jovem Rafael Takahace, de 16 anos, que não ficou atrás dos melhores e acabou garantindo passagem para as finais. Depois de 4 horas de festival, os finalistas foram os seguintes:  Cesar Grosso, Felipe Camargo, Jean Ouriques, Beto Ferragut, Rafael Takahace, Pedro Rafael, Pedro Nicolosso e Marcelo Balesteros  no masculino;  Thais Makino, Anna Shaw, Luana Riscado, Bianca Castro, Flor Kessling e Tatiana Caloi no feminino.

Felipe Camargo durante o festival.
Rafinha Takahace mandando bem e garantindo a vaga na final
Cesar Grosso perto de finalizar mais um boulder
Thais Makino passeando nos boulders
Luana Riscado perto do top durante o festival.

As finais foram emocionantes, principalmente o feminino. Eram quatro boulders, 30 minutos para tentar todos em sequência. Depois de ir tentar o próximo boulder, não podia mais voltar para o anterior. No feminino Thais Makino deu um show. Encadenou todos os boulders da final, com destaque para o último, com um bote de lado muito bonito. Quase no fim Anna Shaw também quase manda esse boulder, depois de muitos pedidos da torcida para mais uma tentativa. Luana Riscado fechou a participação na final com um top, garantindo o terceiro lugar.

No masculino Belê pegou pesado, e todos os boulders estavam extremamente difíceis. Tanto que uma agarra bônus virava automaticamente vantagem e muitos passavam pro próximo boulder logo depois de dominar uma agarra bônus. O primeiro boulder não viu nenhum top. Muito menos o segundo, que viu poucos avançarem mais de duas agarras. Felipinho foi o primeiro a tentar o terceiro boulder, que parecia bem a sua cara: bidedos e monodedos. Ele entrou muito bem, e logo na primeira tentativa tocou a agarra final. Foi o suficiente pra todos virem tentar o boulder também. Cesinha e Jean Ouriques também foram muito bem nesse boulder, quase fazendo top. Felipinho voltou para a segunda tentativa e depois de dominar a agarra final com uma das mãos, caiu quando tocou com a segunda. Apreensão geral pra saber se ele tinha feito ou não o top, que acabou sendo validado pelos fiscais, para o azar de Cesinha, que até ali estava sendo o campeão pelo resultado do festival. Todos correram para o último boulder quando Beto Ferragut foi bem na primeira tentativa, mesmo com a costela trincada. Mas o tempo estava curto, e ninguém conseguiu encadenar, ficando assim a vitória da primeira etapa com Felipe Camargo, sob protestos (justos) de Cesar Grosso.

Felipe Camargo quase dominando a agarra final. (Foto: Caio Pimentel)
Final masculina - Master
Beto Ferragut no último boulder da final (Foto: Caio Pimentel)
Pódium do Master Masculino
Pódium Master Feminino (Foto: 4Climb)

O resultado final de todas as categorias ficou assim.

Master Masculino

1. Felipe Camargo

2. Cesar Grosso

3. Jean Ouriques

Master Feminino

1. Thais Makino

2. Anna Shaw

3. Luana Riscado

Juvenil A

1. Yan Kalapothakis

2. Lucas Groenner

Juvenil B

1. Vitor Fujita

Adulto A Masculino

1. Tiago Rodrigues

2. Rafael Rebello

3. Lucas Sá

Adulto B Masculino

1. Guilherme Ferraz

2. Neudson Aquino

3. Léo Medeiros

Adulto A Feminino

1. Daniela Grassi e Glauce Ibraim

3. Alessandra Dias

Adulto B Feminino

1. Debora Hashiguchi

2. Anaceli Vieira

3. Graziela de Oliveira

Sênior

1. Brady Robinson

2. André  (Godoffe) Monteiro

3. Goro Shiraiwa

Paraclimbing

1. Raphael Nishimura

Infantil (sub-13)

1. Julia Dias

Fazendo agora uma reflexão sobre o campeonato, o saldo foi bastante positivo. O muro ficou de uma qualidade incrível e as vias criadas pelo Belê também. Gostei do modelo festival e realmente fica bem interessante, e mais dinâmico, mas ainda gostaria de ver finais no estilo IFSC, um boulder e um atleta de cada vez, em todas as categorias, quando o número de atletas permitisse. Senti falta de alguma premiação na competição, além da medalha. No amador qualquer coisa já seria válida. Na minha opinião motiva mais os atletas a participarem. Quem duvida que uma das motivações do master são as passagens para Paris? Eu não. Achei que a categoria infantil deveria ter boulders próprios, assim como a Paraclimbing, para evitar a frustração de alguns jovens atletas, como o garotinho que citei ali em cima. Em termos de divulgação senti a falta da cobertura de algum veículo de imprensa. Não me lembro de ter visto nem uma rede de televisão fazendo matérias durante a competição (se houve, me corrijam). E pra fechar, faltou uma festa! Campeonato de escalada combina com festa de encerramento. No mais tudo foi bem, e a competição tende a crescer e ficar cada vez melhor! Parabéns a todos os envolvidos, principalmente ao Pedro Leite da Adrena, que assumiu a frente de tudo e fez o negócio acontecer.

Em junho tem a segunda etapa em São Bento do Sapucaí, e a temporada do Brasileiro fecha em Agosto, com a terceira etapa em Belo Horizonte, que quero muito estar presente.

 

 

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