Habemus boulders em Quixadá

Eu comecei a escalar em um curso em Quixadá. De lá pra cá já se vão 7 anos escalando, e com o tempo, tenho que admitir, Quixadá caiu um pouco no meu conceito. Encontrei a escalada esportiva e passei a não curtir tanto as paredes, e os delicados “cristaizinhos” da rocha de lá. Ok, admito que o estilo é muito bom para ganhar técnica de trabalho de pés e exercitar o psicológico, mas não é muito a minha praia.

Em algumas incursões para a cidade, que tem pedra espalhada para todos os lados, fiquei à procura de blocos que pudessem servir para a prática do boulder. Encontrei algumas coisas, na rocha extremamente abrasiva e “machuquenta” de lá, mas nada que me fizesse dizer realmente, “temos um setor de boulder”. Essa ideia começou a mudar uns meses atrás quando alguns amigos, explorando um novo setor de esportiva para Quixadá, deram de cara com um local com uma quantidade razoável de blocos. E o melhor, a rocha parecia ser um granito bem mais promissor.

Minha primeira visita ao lugar foi no final de janeiro. Com pouco tempo pra explorar, acabei abrindo apenas uma linha, um V1, mas já antevendo um pouco o potencial do lugar. Nesse carnaval voltei ao lugar, disposto a passar pelo menos um dia por lá, abrindo mais algumas linhas e achando novos projetos. Arranjei um parceiro, o Sávio, mais um crash, e fechamos o domingo de carnaval na base da Serra Branca, pedra com a maior via de escalada do nordeste, com 530 metros de extensão.

Chegando na Serra Branca

De novo tivemos que cortar mato seco até chegar à cerca que marca a “entrada” do setor. Mais alguns passos e chegamos no bloco de Boas Vindas, onde já havia aberto o boulder na primeira vez. Repeti a linha, e o Sávio fez o FA de outro boulder no mesmo bloco, o Cascão V1. Próximo ao bloco de Boas Vindas vários outro blocos esperam por um pouco mais de exploração, mas resolvemos mesmo descer para o segundo conjunto de blocos, que já havia me parecido mais promissor na primeira viagem.

Boulders do bloco de Boas Vindas

Por lá dei mais uma passeada, vendo várias linhas “hard”, algumas outras mais fáceis, mas altas e com bases ruim demais para tentar apenas com 3 crash pads. Mas procurando um pouco mais, e com mente aberta, encontramos boas linhas, algumas até bem óbvias, mas que passaram batido na primeira inspeção. Ficamos por ali e começamos os trabalhos pelo bloco que batizamos de Lek de Opções. Nele abrimos 3 boulders com a mesma saída: Lek V0, Lelek V1, e Lelek Lek V2 (os graus ainda são apenas sugestões). O bloco ainda guarda mais uns 2 projetos cujas linhas já visualizei, mas não cheguei a entrar.

Na cadena do Lelek Lek V2

Bem próximo a esse bloco, abri uma outra linha no começo de um corredor formado por outros 2 blocos. A saída era óbvia, mas o beta não. Demorei algumas tentativas até achar o beta correto e fazer o FA do que acho pode ser o primeiro V3 do setor. Com a cadena, ainda restava forças para tentar mais uma outra linha que me chamou a atenção, uma fenda horizontal bem óbvia, e que parecia de domínio fácil.

Boulders do bloco Lek de Opções

O complicador da linha, e que acaba diminuindo um pouco a sua estética, é um bloco logo ao lado, que tem de ser evitado. Na primeira tentativa, cheguei fácil onde achei que ia ser o domínio, mas acabei não achando o movimento e cai. Parei um instante e analisei a virada e vi que era necessário mais alguns movs na beirada para efetuar a virada. Assim fiz, e encadenei o que acho ser um outro V3, que batizei de Cabeça Dinossauro.

Na cadena do Cabeça Dinossauro V3

O dia já estava acabando e resolvemos voltar cedo para não ter que fazer a trilha de noite. Mas ainda achamos tempo para brincar em um outro projeto. Uma linda fenda de punho, em um negativo de uns 30º, que vai debaixo até o domínio do bloco. Como não sei nada de técnica de entalamento, fiz minhas tentativas usando oposição, e constatei que o boulder vai ser hard com esse beta. No mesmo bloco existem pelo menos mais 2 projetos fáceis, e quem sabe alguma coisa mais cascuda.

No final terminamos o dia com 7 linhas no novo pico, ainda com bastante coisa pra explorar e abrir. Com certeza ainda existe muito trabalho pela frente, já que o mato cobre e cerca boa parte dos blocos, então vai ter muita base pra ajeitar e domínios para limpar. A rocha é muito boa, completamente diferente do restante de Quixadá, e me pareceu proporcionar poucas linhas fáceis óbvias e estéticas. Não sei, pode ser apenas impressão, mas o fato é que a maioria das linhas que me chamaram a atenção acabaram se mostrando mais fortes do que imaginei, e isso me pareceu que vai ser a tendência do lugar. Mas isso, só o tempo vai dizer.

Em tempo, Quixadá vai receber esse ano a 14º edição do EENe, Encontro de Escaladores do Nordeste, no feriado de 7 setembro. Espero até lá já ter um setor um pouco desenvolvido, com algo em torno de umas 30 linhas para apresentar aos visitantes e quem sabe ver esse lugar se tornar o primeiro destino para boulderistas no Ceará.

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