Top 10 filmes de escalada
Montar listas, seja lá do que for, é uma tarefa ingrata, e em 100% das vezes não agrada todo mundo. Portanto antes que você perca seu tempo aí dizendo que existem filmes de escalada melhores do que esses, vou adiantar que essa é uma lista bastante pessoal. São os melhores 10 filmes de escalada para aquele que vos escreve, e seguiu alguns critérios.
O primeiro foi deixar de fora as coletâneas First Ascent e Reel Rock, porque ou entrava pra lista a coletânea inteira, ou entrava apenas um segmento, que são na verdade curtas. Fosse de um jeito ou de outro, dada a qualidade dos filmes, o que ia acabar acontecendo é que isso aqui ia ficar cheio de filmes do Reel Rock e ia perder a graça.
Portanto me concentrei apenas naqueles que foram lançados realmente como a intenção de ser um único filme, mesmo que ele tenha seguido a lógica de usar “segmentos” na edição.
The Sharp End
O filme de 2008 que apresentou Alex Honnold para o mundo! A linha que conduz a narrativa é dos escaladores que buscam o limite máximo do risco. Que se equilibram na linha ténue entre o sucesso e se machucar feio. E nesse meio tem de tudo, do boulder até escalada solo, passeando pelo wingsuit e highline. O filme passa por diversas locações e segue vários escaladores, mas o destaque fica com o trecho na República Tcheca, onde a trupe de escaladores americanos se depara com a cena de escalada mais foda que existe: torres de arenito onde não se pode usar magnésio, nem peças móvel, e tudo que separa o escalador de uma queda, são cordeletes com nós para entalar na rocha. O lugar é tão foda que deixou Cedar Wright com o cu na mão e abriu espaço para a estrela de Alex Honnold brilhar, escalando uma aresta insana onde proteger ou não, não ia fazer a menor diferença.
Você pode adquirir o filme no site da Sender Films.
Touching the Void
Esse filme era para ter sido um filme de aventura com Tom Cruise no papel principal. Mas por algum milagre os produtores sacaram que o caminho mais correto era documental, com reencenações do ocorrido. O ocorrido? O acidente de escalada que virou lenda do montanhismo mundial e a história de sobrevivência mais surpreendente de todos os tempos. Dois escaladores, presos na montanha, e o único jeito de pelo menos um deles sair vivo de lá era tomando uma decisão impensável: cortar a corda que o ligava ao companheiro. Mas calma que isso não é spoiler, acontece logo no começo do filme. A história é sobre como Joe Simpson, o escalador deixado para morrer, consegue sobreviver e voltar para o acampamento, em uma incomparável luta pela sobrevivência.
Você pode adquirir o Touching the Void na iTunes Store ou na Amazon.com
Meru
Mas um filme imbuído do melhor espírito de “sefudência”. Escalar uma parede alpina, num local de clima difícil, já pode ser considerado coisa de doido. Fazer isso com um dos membros da sua equipe voltando de uma gravíssima lesão na coluna, sem estar 100% recuperado, é quase pedir pra se fuder. Mas isso não impede Conrad Anker, Jimmy Chin e Renan Ozturk de tentarem mesmo assim a primeira ascensão da Shark’s Fin no Monte Meru, no Himalaia Indiano. Um filme que bate fundo nas qualidades que a escalada traz de melhor: perseverança em busca de um objetivo, e o inestimável valor da amizade e do companheirismo. Se não escorrer uma lágrima no final você não tem coração.
Você pode adquirir o Meru na iTunes Store.
Progression
O filme de 2009 tem talvez o melhor “cast” de escaladores já combinado em um filme de escalada. A linha central do roteiro é a “progressão” do nível da escalada mundial, em suas diversas facetas, e quem são os protagonistas desse momento. E para isso o time não podia ser fraco. Temos Daniel Woods e Paul Robinson carregando o bastão no boulder, e mostrando os movs mais difíceis que o corpo humano é capaz de fazer. Temos ainda a hoje desaparecida Johanna Ernst e a lenda Patxi Usobiaga nas competições, Tommy Caldwell apresentando seu futurístico projeto na Dawn Wall, Kevin Jorgenson puxando os limites do highball bouldering, e finalmente os dois maiores escaladores da atualidade: Chris Sharma e Adam Ondra, batalhando pelo grau mais alto da escalada esportiva, finalizando com a cadena do primeiro 12b do mundo. Preciso dizer mais?
Você pode adquirir o Progression no site da Big Up Productions.
Dosage 4
Para mim o suprassumo do modelo de filme em “doses” de escalada. No caso, doses cavalares de escalada. De toda a série Dosage eu tinha que escolher pelo menos um, e obviamente que iria ser o 4. Ele tem o pacote completo: escalada de suar as mãos para todos os gostos, cadenas inesquecíveis, e trilha sonora escolhida a dedo. Os destaques ficam pela cadena de Chris Sharma da Dreamcatcher, a cadena de Dave Graham da Coup de Grace, Lisa Rands escalando o Gaia no Peak District, e o final pra paredista nenhum botar defeito, com Tommy Caldwell escalando duas vias no El Cap em um dia. Acho que tá bom, né?
Você pode adquirir o Dosage no site da Big Up Productions.
Core
Depois do sucesso do seu primeiro filme Pure, Chuck Fryberger voltou com vontade de colocar seu nome no mapa dos filmes de escalada, e com Core ele conseguiu isso. Belamente filmado em 4k com as fantásticas câmeras Red, o filme trouxe um novo nível de qualidade de imagem. Além da imagem perfeita, o estilo de Chuck transpira em cada cena: closes fechadíssimos, câmera lenta em abundância, e algumas cenas non-sense pra quebrar o ritmo non-stop de escalada. O astro do filme é Nalle Hukkataival, que é o protagonista do clímax do filme. Mas o filme também reserva espaço para outros escaladores como Matt Wilder, Michelle Caminati, Fred Nicole, e o ilustre desconhecido e dono de talvez a melhor sequência do filme BJ Tilden. Meus dedos doem só de lembrar! Assista com um saco de magnésio do lado.
Você pode adquirir o Core no site iClimb.
King Lines
O ano era 2008 e Chris Sharma já era o maior escalador em rocha do mundo. Não ia demorar pra sair um filme sobre ele, e King Lines faz isso com maestria. Além de tomar tempo de contar a história de Sharma, desde o seu começo na escalada aos 12 anos de idade, adentrar um pouco na personalidade do cara que se tornou o primeiro “Rock Star” da escalada mundial, o filme acompanha Sharma na busca da linha perfeita, a King Line do título. Em busca dessa linha o filme passa pela Grécia, Mallorca, California e Venezuela, com um roteiro bem amarrado e coeso. É nele que vemos um trechinho do que ia se tornar o primeiro 12b do mundo, a Jumbo Love, e ficamos com um gostinho de quero mais, esperando pela cadena que só ia sair mais na frente, em outro filme de escalada.
Você pode adquirir o King Lines no site da Big Up Productions.
First Ascent
Esse não é a coletânea, é o filme de 2006 que virou clássico absoluto dos filmes de escalada! O filme segue os escaladores que buscam a glória do First Ascent em três continentes. Acompanhamos um David Lama recém-saído-das-fraldas fazendo Deep Water Solo na Tailândia, escalada off-width bruta no melhor estilo me-arranho-todo-mas-termino com um Cedar Wright ainda com cara de moleque, mas não menos psicótico, e Dean Potter no auge, mandando tudo em India Creek e tomando vacas lendárias. Mas a cereja do bolo fica mesmo com a épica batalha de Didier Berthod, um escalador suíço saído do nada, com a infame Cobra Crack, a fenda mais difícil do mundo (na época pelo menos), que abre e encerra o filme com um desfecho emocionante. Indispensável!
Você pode adquirir o First Ascent no site da Sender Films.
Asgard Project
Imagine o pior lugar do mundo para se escalar. Multiplique por 10. Você ainda não vai chegar perto do Monte Asgard, na ilha de Baffin, no norte do Canadá. O lugar é tão remoto que os caras chegam no lugar saltando de paraquedas! O objetivo: fazer a primeira ascensão em livre da torre norte no Monte Asgard. A equipe é formada pelo escalador com 10-parafusos-a-menos Leo Houlding e Sean “Stanley” Leary, e se você quer saber o que é perrengue, esse é o filme. A primeira metade do filme é somente com os treinamentos dos dois, que escalam em Riglos e em Yosemite para se preparar para o imponente Monte Asgard, mas nada prepara o psicológico deles para o que eles vão enfrentar. A edição de Alaistair Lee nesse filme é tão perfeita que você fica praticamente até o final do filme no suspense se eles vão ou não conseguir chegar no cume.
Você pode adquirir o Asgard Project no site da Posing Productions.
Valley Uprising
Simplesmente a história da evolução da escalada em um dos maiores e mais famosos picos de escalada do mundo. O lugar que todo escalador que se preze tem que ir antes de morrer. A meca! Yosemite! O filme passea pelas várias gerações de escaladores que construíram a escalada no vale de Yosemite. Das primeiras ascensões em artificial de Royal Robbins e Warren Harding nos anos 50 e 60, passando pelos Stone Masters dos anos 70, até a nova geração de escaladores que carregam em frente a tocha da escalada no vale e mantém o local na vanguarda da escalada mundial. Um filme pra escaladores e não-escaladores, que tem tudo pra deixar você já planejando a viagem para Yosemite assim que o filme terminar.
Você pode adquirir o Valley Uprising no site da Sender Films ou assistir no Netflix.
Menção Honrosa: Respira
Sabe aquele filme que você não dá nada por ele, mas quando assiste se encanta? É assim a produção mexicana, Respira. O filme não tem grandes nomes, exceto por uma pequena participação de Alex Honnold no final, mas é a vibe que contagia. O filme mostra a cena de escalada no México, a sua evolução, os seus principais nomes, seus picos, e tinha tudo para ser um filmeco, não fosse pela abordagem dada que foca no estilo de vida da escalada. Mas talvez o fator determinante seja olhar o filme e ver uma cena de escalada ainda muito parecida com a brasileira, o que cria uma identificação imediata. Um filme de escalada que faz você realmente ficar com orgulho de ter escolhido esse estilo de vida, e perceber a família da escalada é a mesma, seja onde for.