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Aguda: o perrengue!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Como eu havia prometido, vou contar aqui a história do meu primeiro perrengue na pedra, que aconteceu no ano passado, mais precisamente no dia 17 de Maio, na pedra da Aguda em Aracoiaba.

Tudo começou pela internet. Eu já tinha conhecido o Claudney em Quixadá, e tinha pego o contato dele no msn, e foi por ai que ele fez a proposta. Eu tava no verme de escalar, e topei na hora. O combinado era ir pegar ele e seus amigos, Claudio e Mônica no aeroporto, às 6 da matina.

Antes preciso dizer que nunca tinha escalado algo como a Normal da Aguda, uma via de mais de 300 metros, no calor lascado do Ceará e, portanto, não tinha a menor noção de logística, e muito menos do tempo que iríamos levar. Mas fiz minhas contas: vamos sair de Fortaleza 6 da manhã, umas 8 horas a gente tá em Aracoiaba e começa a escalar umas 8:30; lá pelas 10, 11 da manhã a gente deve tá no cume, tira umas fotos, curte o visual e desce; lá pelas 3 da tarde a gente já deve tá voltando. Vai ser moleza!

aguda
aguda

Pedra Aguda em Aracoiaba

Saí de casa cedinho, mas no meio do caminho pro aeroporto percebi que tinha esquecido o croqui da via. Foi o jeito voltar pra pegar, e me atrasei um pouquinho. Cheguei lá o pessoal já tava me esperando. Jogamos a tralha no carro e pegamos a estrada rumo à Aracoiaba.

Minhas contas do tempo de estrada estavam certas. Chegamos em Aracoiaba por volta das 8 da manhã, deixamos o carro na propriedade de um morador onde começa a trilha e iniciamos a caminhada. Eu esperava uns 20, 30 minutos de trilha, calculando visualmente a distância até a pedra. Mas quando a gente começou, eu vi que não ia ser tão simples assim. A trilha não estava tão óbvia e nós andamos um bocado pelo meio do mato. O destino era a base da Variante Pepperoni, marcada por 2 palmeiras. Depois de mais de 1 hora de caminhada achávamos que haviamos chegado no lugar, mas na verdade ainda estávamos a uns 100 metros do lugar certo. Depois de bater cabeça um pouco, chegamos na chaminé que dá acesso à base. Por volta das 10 da manhã estávamos prontos pra começar a escalada. (nas minhas contas já devíamos estar perto do cume)

base
base

Claudio, eu e Claudney na base da variante Pepperoni

Iriamos em duas cordadas: Eu e Claudney, e Cláudio e Mônica. Cláudio, que já tinha tentado escalar a Aguda uma vez, seguiu na frente com o Claudney. Logo depois foi minha vez e da Mônica. Logo de cara vi que o negócio não ia ser tão moleza assim. Vou escalando e vejo que a corda se embrenha numa moita gigantesca de macambira, um troço espinhento pra burro. Olho praquilo e pergunto como diabos o Claudney tinha passado ali no meio. A resposta não é animadora:

- Só meter os pés ai! Usa a planta como agarra!

- Tem nem chance!!

Dei a volta e subi por outro lugar, mais limpo, mas não escapei de umas espetadas. Mais na frente, o Cláudio, que tava com o croqui desde o início da escalada, percebeu que tinha perdido o bendito, e que agora a gente ia subir “às cegas”.

macambira
macambira

A espinhenta!

O próximo desafio foi um trecho de travessia onde havia água escorrendo na pedra, com uma moita de macambira logo embaixo (fiquem atentos a quantas vezes a palavra “macambira” vai ser citada). O Cláudio pegou outro caminho e o Claudney encarou o “rio”. Passamos por mais essa, e seguimos subindo.

O sol tava pelando tudo, e a pedra tava uma “diliça” de quente! Dava pra fritar ovo, tenho certeza.

Mais alguns metros de subida e chegamos num platôzinho filé. Aproveitei pra deitar na pedra um pouco e comer uma maçã. Uma nuvemzinha de chuva passou rápido e derramou umas gotas só pra refrescar.

A escalada continuou, mas já passava do meio-dia. No próximo platô, o Cláudio deu sinais de estar sentindo o calor, e parou um pedaço. Enquanto isso o Claudney encarou o próximo trecho. Nessa altura nós mudamos a estratégia. Eu subi depois do Claudney, e levei a corda do Cláudio comigo, pra ele subir com a segurança feita de cima, visto que ele não estava bem.

Passado esse lance, se deu o impasse. Por onde agora? Sem croqui, e sem conseguir avistar as próximas chapas a gente ficou perdido na pedra. Foi o jeito ligar pro escalador on-line, Pepê. Claudney ligou e pediu os betas de por onde seguir. Pepê ficou surpreso com a ligação, porque achou que a gente já iria estar voltando àquela altura do campeonato. Mas prosseguimos e finalmente chegamos no cume. Hora? 3 e meia da tarde.

cumeaguda
cumeaguda

Finalmente no cume!

Lá em cima preciso nem dizer que o visual é mais do que recompensador. Vista linda, linda mesmo. Me fez esquecer todas as macambiras do caminho até ali. Cada um assinou o livro de cume e rolou um momento emotivo lá em cima. Os 3 que tinham ido comigo eram amigos da escaladora Chang Wei, que havia morrido a pouco tempo em um acidente na Ana Chata. O Cláudio havia tentando escalar a Aguda com ela, e dedicou a conquista do cume a amiga e ficou visivelmente emocionado. Eu que não sou de ferro, senti o clima e fiquei com um nó na garganta. Foi um momento muito especial do dia.

É, mas quem disse que acabou? Ainda tinha a volta companheiro, e foi ai que o negócio ficou feio mesmo. Começamos a rappelar por volta das 4 da tarde, mas lentamente. Enquanto isso o sol ia se pondo e eu lembrando que não havia trazido headlamp (a gente ia voltar 3 horas, achava eu). Ai lá vamos nós de novo enfrentar as malditas macambiras. Eu já não aguentava mais. E parece que quanto mais você reza, mais assombração aparece.

Em determinado momento do rappel era preciso passar no meio de uma moita de macambira. Eu fui lá. Cheguei pertinho dela e fiquei estudando um jeito de não me espetar todo. Tive a brilhante ideia de dar um passo mais longo e tocar a pedra mais embaixo e quem sabe assim, escapar da moita. Mas justo quando eu achava que ia conseguir, uma caimbra dos diabos me desequilibrou e eu cai sentado na moita. Sensação mais do que desagradável. Os espinhos desse negócio parecem unhas de gato. Quando pega, pra soltar é uma briga!

Já tinha escurecido e faltavam ainda umas duas cordadas pra chegar na base, quando o Cláudio que desceu primeiro, passou da parada e teve que voltar um pouco. Perdemos um tempo desgraçado nisso. E eu já me maldizendo. Na última cordada, eu fiquei pra descer por último. Lá em cima eu ficava me perguntando o que diabos eu tinha ido fazer ali. Mas dando graças a Deus que já tava terminando a agonia. Mal sabia eu que ainda ia ter mais.

Chegamos na base, e tivemos que fazer mais um rappel, dessa vez de uma arvore, pra finalmente chegar no chão. Mas foi tranquilo e às 8 da noite a gente tava em terra firme.

Agora vamo lá achar a trilha de volta. Quem disse que a gente achou? Embora a bendita estivesse toda marcada no GPS do Claudney, a gente não conseguiu seguir ela. Foram 2 horas perdidos no meio do mato e sem água. A essa altura eu já tava arguejando e pedindo pelo amor de Deus pra chegar em casa. Às 10 da noite a gente chegou no carro. Mortos! O caseiro tava achando que a gente ia era dormir lá, do tanto que a gente demorou. Mas tudo bem, agora era dirigir pra casa. Mas não sem antes fazer um “pitstop” pra beber algo.

Chegamos em Aracoiaba, e num barzinho de praça eu pedi uma Coca-cola. Bem gelada, fiz questão de frisar. Duvido que alguma Coca-cola vá ter mais sabor que aquela. Que alívio grande!

Pegamos a estrada de volta, e eu coloquei uma música pra me manter acordado. Fui deixar os 3 na casa do Claudney, e voltei sozinho, morrendo de sono. Cheguei em casa depois da meia noite, pra ainda tomar um banho e tirar os espinhos de macambira que ficaram presos pelos braços e pernas. Fui dormir e ainda fiquei tendo “pesadelos” com a Aguda. Mas apesar dos pesares, valeu a pena. Já tô até pronto pra outra! Deixo vocês com um pequeno vídeo editado pelo Claudney!

[youtube="http://www.youtube.com/watch?v=w0sX_Xhiie8&feature=player_embedded"]

ps: no dia seguinte, Pepê e um amigo nosso, Cabral, foram fazer a Aguda também. Depois de escalar o troço inteiro e ainda colocar uma chapas novas, foram comer um baião. A hora? 3 da tarde!

Escrito por Neudson Aquino em : Escalada, Fotos, Textos, Vídeos

Comentarios»

1. Pepê - março 23, 2009

Excelente materia…….Parabens……………
^^

2. Daniel Mamede - março 24, 2009

Já sei o q da de presente ao Neudson: uma muda de macambira! :P

3. Claudney - março 24, 2009

Agora vamos na Cachalote, lá em Quixadá, fechou, Neudson kkkkkkkkk

4. Neudson Aquino - março 24, 2009

Vamo nessa Claudney!! hehehe
Mas tô de olho nas passagens pra quem sabe fazer uma ai no Rio!!

5. Claudney - março 25, 2009

Opa, boa notícia, então vamos uma grandinha por aqui