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Viajando e escalando: Rio de Janeiro

quinta-feira, 18 de junho de 2009

No feriadão me mandei pro Rio de Janeiro. Era um destino que até o mês passado eu nem cogitava em ir, mas as promoções aéreas apareceram e incitaram meus instintos consumistas. Comprei as passagens no impulso e anunciei que ia pro Rio, o que fez dois amigos, Jorginho e Cleilson, também se animarem a ir!

Cheguei na cidade maravilhosa na quinta-feira à tarde. Meu amigo Claudney foi me pegar no Galeão, com seu amigo Bernardo e o Jorginho, que já tinha chegado de manhã. No caminho pra casa do Claudney, passamos pela Linha Amarela (que virou notícia no começo da semana) e pelo Maracanã, onde o Jorginho quis parar pra tirar umas fotos.

Jorginho e Cleilson já tinham escalado na quinta, enquanto eu tive que me contentar com o dia seguinte. Mas como o dia ainda não tinha acabado, resolvemos conhecer um pouco da noite carioca e nos mandamos pra Lapa. Outro amigo do Claudney nos acompanhou, João, e acabou se complicando com a esposa (rs). Depois de algumas cervejas, resolvemos voltar pra casa. O dia seguinte ia ser de rocha!

Os planos pra sexta eram de fazermos a clássica Passagem dos Olhos na Pedra da Gávea. O dia amanheceu encoberto, como nas previsões, mas alguns cantinhos de céu azul apareciam aqui e ali, dando esperança. Pegamos o ônibus até a Praça Saens Penha, onde nos encontraríamos com o João, e a Claudinha, outra parceira de escalada do Claudney. Por volta das 8 e meia da manhã, seguimos rumo à pedra.


Chegando na trilha

Iniciamos a trilha para a Pedra da Gávea, de uma hora e meia de caminhada, sob céu fechado, ameaçando chuva. Com 30 minutos de caminhada, a maldita veio, e tivemos de abortar a escalada da Passagem. Existia a opção de continuar a trilha e curtir o visual lá de cima. Mas como com aquele tanto de nuvens não ia ter visual nenhum, resolvemos descer e ir até o Campo Escola 2000, na Floresta da Tijuca.

Chegamos no Campo Escola 2000 e de cara fiquei impressionado com o tamanho do negócio. Realmente impressionante! Alguns escaladores locais já trabalhavam suas vias, e como a única mais ao nosso alcance estava ocupada, resolvemos ir tentar uma via numa parede próxima à gruta dos morcegos.


Campo Escola 2000

Preparamos os equipos e entramos na via, Dudu, um sexto grau. Jorginho foi o primeiro a dar um pega, e só caiu no crux da via, antes da última chapa. Depois eu entrei, e só fui até a terceira chapa, passando a vez para o Cleilson, que repetiu meu desempenho. Ai foi a vez do Claudney, que foi até o crux, e tentou isolar o movimento. Nessa altura, a chuva já caia com vontade na floresta, fazendo a temperatura baixar ainda mais. Jorginho se preparou pra mais um pega na via, e mandou. Eu ainda tentei uma segunda vez, mas nada feito. Entrei de top rope e desequipei a via.

Voltamos para a parede principal e entramos na única via mais acessível, um 8c.  Fizemos algumas tentativas, mas não conseguimos ir além da segunda chapa. O frio tava demais. Eu não conseguia sentir os dedos direito, e a chuva não parava.


Será que tava frio?

Arrumamos as coisas e descemos até a saída do Parque. De lá pegamos 2 ônibus até a casa do Claudney, mas antes, uma parada no supermercado pra comprar algo pra comer. O prato da noite ia ser um belo de um macarrão, preparado a 3 mãos pelo Cleilson, Claudinha e Claudney. Eu e o Jorge ficamos com os pratos depois. Todo mundo de “bucho” cheio, era hora de ir dormir, pra acordar inteiro no dia seguinte.

O dia amanheceu ainda encoberto, mas melhor que o dia anterior, e antes de saírmos de casa o sol deu o ar da graça.  A idéia inicial, acertada no dia anterior, era irmos até a falésia da Asa Delta. Mas o tempo bom mudou os planos. Rumamos pra Urca. Lá o dia se mostrou realmente promissor, e a clássica Italianos voltou aos planos do dia. Mas antes resolvemos descer até a Pedra do Urubu, e tentar umas esportivas.

No caminho até lá, na pista Claudio Coutinho, visitas inusitadas. Vários saguis seguindo a gente, talvez querendo alguma comida. Aproveitei pra tirar algumas fotos dos bichos.


Chega mais perto pra eu te dar uma mordida!

Já na pedra, encontramos o André, escalador local que estava sozinho por lá, esperando companhia pra escalar. Não demorou muito pra ele reconhecer o Claudney e se juntar a nós. Fizemos o reconhecimento das vias, e ficamos frente a frente com o primeiro 5.14a brasileiro, a via Southern Confort, ou via do Alemão, conquistada pelo lendário Wolfgang Güllich.


Via do Alemão

Resolvemos então entrar na via mais acessível do lugar, Urubunda 7a. Jorginho deu o primeiro pega, e depois de isolar o crux, mandou a via. O estilo encaixou como uma luva pro Jorge, cristaizinhos e fé na sapatilha, marca registrada de Quixadá, terra natal dele. Eu entrei em seguida, e não passei do crux, que é logo antes da segunda chapa. Mas trabalhei um pouco os movimentos, e me guardei para um segundo pega. Cleilson entrou logo depois e também mandou a via, depois de trabalhar um pouco os movimentos do crux. Enquanto isso, Claudney entrava na Urubu Rei 7b, e o André entrava na Urubu Capenga, também 7b.


Jorginho na Urubunda 7a


Eu na Urubunda e Claudney na Urubu Rei

Hora do meu segundo pega na via. Entrei tentando me concentrar onde colocar os pés com precisão, e fui subindo. Costurei a segunda chapa e pronto, o crux já tinha ido. Agora era relaxar até o final. Finalmente um sétimo, o primeiro. Nunca imaginei que ia alcançar esse grau justo no Rio de Janeiro.


Encadenando a Urubunda

Enquanto escalávamos, 2 grupos de outros estados apareceram pra conferir a pedra. Primeiro um grupo de mineiros, que só viram o lugar e logo subiram pra entrar na Italianos. Depois um grupo de paranaenses apareceu. No meio do bate-papo a surpresa, um deles conhecia o Claudney. Subimos para a Italianos e deixamos os paranaenses escalando no Urubu.

Chegamos na base da via, e os mineiros estavam iniciando a subida, então tivemos que esperar. Formamos as duplas: Jorginho e João, e eu e Cleilson. Claudney e Claudinha foram fazer uma outra via em outra face do Pão de Açucar. Depois de o segundo mineiro deixar a primeira parada, Jorginho entrou na via. Mandou rápido a primeira enfiada, e subiu o João. Eu e o Cleilson ficamos esperando embaixo.


Jorginho guiando a primeira enfiada da Italianos

Às 3:10 da tarde, iniciamos a escalada da Italianos. Cleilson entrou guiando e eu de segundo. Mas não conseguimos subir rápido, por que a coisa começou a complicar lá por cima. Alguns escaladores locais que escalavam uma via à direita da Italianos, misturaram o meio de campo com o Jorginho e o João e atrasou os dois. Conseguentemente, a gente também. Depois de o Cleilson montar a parada, foi minha vez de subir. Achei que ia ser moleza, ia subir rápido e ganhar tempo, mas foi só ilusão. A via não era tão fácil assim, e a mochila nas costas e o vento frio, complicaram mais ainda. Quando cheguei na parada o sol já estava bem baixo, e foi preciso eu colocar a blusa de frio, que não adiantou muito, já que o problema era o vento.


Cleilson no topo, na segunda parada da Italianos

Conversamos um pouco e decidimos que iámos seguir em frente. Cleilson guiou a segunda enfiada, mas dessa vez o vento e o frio parecem ter castigado ele também, pois ele levou mais tempo pra completar a cordada. Eu lá embaixo batia o queixo de frio, e não conseguia sentir as mãos direito. Eu queria continuar, mas vi que não teria condições, e dado ao avançado da hora, iríamos terminar a via já no escuro, e ainda teríamos mais uns 200 metros pra subir até o cume. Decidimos então abortar a subida e descer. Fiquei frustrado, mas sabia que era o melhor que devia ser feito na hora. Um escalador tem que saber a hora de recuar.


Vista da Italianos. Ainda valeu a pena!

Descemos a trilha e fomos nos encontrar com o Claudney e a Claudinha no Laguna, uma lanchonete ali por perto. Lá encontramos um casal de americanos que queriam informações sobre o que escalar primeiro no Pão de Açucar. Eu fui de interprete e pedi uma ajuda ao Claudney nos aspectos técnicos.

O domingo pra mim ia ser de boulder. Já tinha combinado com a Yuri e o Cláudio para nos encontramos no Grajaú por volta às 10:30. Claudney e os outros saíram cedo, rumo à Floresta da Tijuca, e eu peguei o ônibus em direção ao Grajaú. Cheguei um pouco antes da Yuri e do Cláudio e fiquei tirando fotos de uma pracinha cheia de vida, próxima à reserva. Realmente fiquei encantado com o lugar. Em plena manhã de domingo, várias pessoas fazendo uso de um espaço público. Idosos, crianças, jovens, adultos, pais, filhos. Algo difícil de encontrar em Fortaleza.

Encontrei com os dois na entrada da Reserva Florestal, e fico logo de queixo caído com a quantidade de blocos no lugar. Era só uma pequena amostra do que tinha ali. Os dois me levam até o bloco de “aquecimento”. Na verdade é um bloco livre, com várias linhas, escolhendo agarras específicas. Cláudio me mostra uma linha cotada em V2. Eu entro nela sem saber o que ia encontrar, e acabo mandando o problema em flash. Fiquei surpreso com a facilidade.

Dali seguimos para um outro bloco, onde a Yuri tinha um projeto, Charlie Brown, um V3. Yuri entra a primeira vez, e observando eu pego os primeiros movimentos. Entro em seguida, e fico mais ou menos no mesmo lugar. Cláudio entra, e manda o boulder com facilidade, e dá uma alguns betas pra gente. Eu entro mais um vez, e dessa vez consigo dominar a penúltima agarra, mas meu pé escapa. Yuri entra de novo, e consegue dominar a agarra também. Entro uma terceira vez, e dessa vez encadeno o boulder. Yuri entra de novo, e tentar acertar o movimento dos pés. Depois de mais uma tentativa, ela também encadena.


Yuri e Claudio no Charlie Brown

Cláudio então me apresenta agora a um V4, fazendo a progressão dos graus e me dando uma boa base de graduação. O nome do problema é A casa caiu, e já se mostra bem mais difícil do que o anterior. Colocando esses dois boulders e o Delícias do Forró de Quixadá, em comparação, chego na conclusão que o Delícias fica realmente como um V3, mas um V3 bem difícil. Tento ir isolando os movimentos, um a um, mas o penúltimo movimento força um pouco o meu pulso ainda um pouco bichado e eu resolvo deixar pra outra vez.


Tentando A casa caiu V4

Saímos dali e vamos em outro setor. Agora tentar um que o Cláudio acredita ser um V5. Ele mais uma vez entrou primeiro, e mandou de segunda. Ai foi nossa vez de tentar. Realmente era mais difícil que o anterior, mas de um estilo diferente. Muita pega aberta na rocha abrasiva do Grajaú. O que restava de pele nas mãos foi embora nesse boulder. Eu e a Yuri tentamos várias vezes copiar os movimentos do Claudio, mas sem sucesso.


No V5, com a Yuri no spot!

Nesse meio tempo um amigo dos dois chegou no lugar acompanhado da namorada, e começou a tentar isolar junto com o Claudio, os movimentos de um projeto no bloco ao lado. Fiquei impressionado com a força dos dois. Depois de algum tempo tentando, eles já tinham isolado quase tudo, e eu achei que fosse presenciar a primeira ascensão desse novo problema no Grajaú, mas não foi desse vez.

Empolgado de ver os dois malhando o projeto, resolvi entrar de novo no V5. Dessa vez o amigo do Claudio, Diego, me deu o beta de usar o calcanhar. Fiz como ele disse e consegui dominar uma agarra a mais e quase fecho o movimento do crux. Esperei um pouco e tentei de novo, mas sem sucesso.

Dedos acabados, resolvemos ir embora. Peguei uma carona com o Claudio e a Yuri até Copacabana, e me despedi dos dois. Fiquei andando um pouco pelo calçadão, e tentando ligar pro Claudney pra marcar de se encontrar, mas só caia na caixa postal. Aproveitei e fui fazer um pouco de turismo. Fui até o Forte de Copacabana e voltei, e desci até a lagoa Rodrigo de Freitas.


Finzinho de tarde em Copacabana

Oito horas da noite e nada de conseguir falar com o pessoal. Resolvi ir até a estação do Cantagalo e pegar o metrô até a praça Saen Penha, onde eu já sabia ter ônibus até a casa do Claudney. De lá eu me virava. Quando cheguei na praça, pedi informações de ônibus até o Meier, mas antes de pegar o ônibus indicado o Claudney ligou, e disse qual pegar. Sorte minha, porque eu ia pegar o errado (rs). Cheguei em casa morto, ainda pra arrumar a mochila e dormir umas 4 horinhas antes de ir pro aeroporto.

No final das contas, apesar de não ter feito as clássicas vias do Rio, me dei por satisfeito com a viagem. Primeiro sétimo grau na cadena, 2 boulders, e uma base melhor da graduação. Sem contar as histórias, as fotos, e a paisagem fantástica do Rio. Já virei fã da cidade maravilhosa, e da próxima vez vai ser pra passar mais tempo!

Escrito por Neudson Aquino em : Boulder, Brasil, Cadena, Escalada, Esportiva, Fotos, Points, Viagem

Comentarios»

1. Claudney - junho 18, 2009

A rede sempre vai tá armada aqui pra você, camarada!
Pode voltar quando quiser.

2. Neudson Aquino - junho 18, 2009

Pode ter certeza que eu vou!! ;)