Os promissores boulders de Santana do Acaraú

Há cerca de 6 anos havia pegado a estrada em direção à Serra da Meruoca, na região de Sobral aqui no Ceará, à busca de boulders. O objetivo era encontrar bons blocos na serra, com clima mais ameno, o que daria um belo pico de boulder. Mas a investida foi um tanto decepcionante. O granito do lugar não formava muitas agarras, eram uns blocos redondos e lisos. Peguei a estrada de volta com os meus companheiros Sávio e Alex e para não voltar pela mesma estrada esburacada resolvemos tomar outro caminho. Esse caminho escondia uma surpresa: Santana do Acaraú. Ficamos embasbacados com quantidade de pedra e os blocos próximo da estrada. Descemos, demos uma conferida e prometemos voltar. Mas não voltamos.

Esse ano a lembrança do possível pico de boulder voltou a incomodar e resolvi tentar de novo. Chamei o Sávio, parceiro da primeira investida, e juntamos mais alguns dispostos a fazer essa nova tentativa. Levantamos algumas informações do lugar, como a existência de um olho d’água, que seria fundamental para um acampamento, e tentamos encontrar qual ponto atacar. Tudo decidido, esse final de semana voltamos à Santana.

Chegando em Santana devidamente equipados

Chegamos no local no sábado por volta das 10h da manhã. Achamos um acesso de carro e subimos até onde conseguimos. Decidimos que acamparíamos por ali. O próximo passo era achar os blocos que vimos da primeira vez ou achar o olho d’água. Decidimos primeiro achar os boulders, mas a sorte sorriu pra gente e no caminho achamos a água. Pouca água mas o suficiente para tomar um banho depois de um dia de exploração. E que exploração!

Logo de cara notamos que a vegetação estava bastante diferente da primeira vez. Naquela época o mato estava mais seco e mais aberto. Agora, após a temporada de chuvas, o mato estava alto e fechado. Ou seja, bastante mão de obra pra chegar em algum lugar. Saímos em 2 frentes abrindo mato atrás dos boulders. Mato no melhor estilo cearense: cheio de espinhos e que pinica e coça demais. Depois de umas duas horas no mato, Sávio conseguiu localizar o local da primeira investida, mas apenas observando de cima, ainda teria mais trilha para chegar até lá. Mas não precisamos. De onde o Sávio divisou os primeiros blocos já havia alguns bons, com linhas bem óbvias, então resolvemos ficar por ali e tentar abrir as primeiras.

A rocha, confirmando a suspeita da primeira investida, é um conglomerado bastante variado. Hora com muitas pedras encrustadas, hora sem nada e macia como calcário. Precisaria de um geólogo para afirmar com 100% de certeza, mas creio que o calcário seja realmente a “liga” desse conglomerado. Voltamos para pegar os crashs e demos início aos trabalhos, já perto das 16h da tarde.

Sávio no “Era pra ser fácil” V2

A primeira linha que saiu, à primeira vista parecia ser algo bem fácil, um V0 talvez. Mas acabou se mostrando um pouco mais forte, com a saída meio esquisita, e acabamos deixando no V2. O nome “Era pra ser fácil” caiu como uma luva. Seguimos em frente e nos deparamos com  um grande teto, que pra nossa tristeza não tinha uma agarra sequer. Apenas na saída do teto, já próximo da virada é que as agarras apareceram e conseguimos abrir a segunda linha, “Quem abre dá”, algo em torno de V3. Saída em agarras boas, com um único pé quase no teto e de lá um dinâmico até um “pinguelão” dolorido, cheio de pedrinhas. Dessa agarra a virada é tranquila, com boas agarras.

Saída do “Quem abre dá” V3

Com o sol já baixando, resolvemos encerrar por aí o dia e voltamos para o acampamento. A ideia inicial era voltar para um “night climb”, mas como os outros blocos ainda precisavam de muita limpeza e o sol do dia judiou, resolvemos apenas tomar um banho no olho d’água, comer e dormir.

No dia seguinte, que ia ser mais curto, com previsão de deixarmos Santana por volta das 13h, chegamos nos boulders o mais cedo que conseguimos e demos início à limpeza e abertura de novas linhas. Dessa nova investida deixamos mais 5 linhas. Mais duas no mesmo bloco do “Quem abre dá” e que ainda guarda a possibilidade de mais uma linha mais “hard” saindo pra esquerda. As outras 3 foram no bloco logo atrás. Bloco esse que era a casa de uma dupla de maribondos que me presentearam com a primeira picada desses bichinhos. Não teve outra, a primeira linha ganhou o nome de “Meu primeiro maribondo”. Sugerimos V2 pra linha, com saída em uma agarra boa de direita e uma fendinha perfeita para a mão esquerda. São praticamente dois movimentos longos para agarras boas até a virada. Bonita linha. No lado direito dela abrimos mais duas, “Menos é mais” e “Rapidinho termina”.

Na travessia do “Menos é Mais” V3

E rapidinho terminou nossa investida em Santana. Visualizamos outras linhas nos blocos próximos e visualizamos também incontáveis blocos nos arredores. A esperança da primeira investida foi confirmada. A rocha é muito boa e forma agarras com bastante facilidade e linhas bonitas. Dessa vez não achamos linhas longas, mas a julgar pelo tamanho de outros blocos, creio que não vamos tardar a achar. Embora a pedra não pareça formar agarras em tetos, o que seria incrível, em negativos as agarras apareceram mais, e geralmente são com a rocha sem as pedras encrustadas, formando agarrões, buracos ou abaulados. Falta também encontrar um belo negativo grande cheio de agarras, mas com certeza deve ter alguns vários escondidos debaixo das árvores.

O time de exploração: Bruno, Karine, Sávio, Mariana, eu e Iale

Deixamos Santana com a vontade de voltar o mais breve possível e continuar os trabalhos. Acredito realmente que dessa vez encontramos um verdadeiro pico de boulder no Ceará, com potencial para algumas centenas de linhas. É quente? É. Mas à noite, por ser sertão, a temperatura baixa bastante. A mata é hostil, com bastante espinhos e plantinhas que coçam e ardem, mas com o tempo, o trabalho das trilhas e das bases, vai ficar mais fácil navegar no local. Agora é só continuar os trabalhos e marcar o primeiro festival de boulders de Santana. Logo depois das chuvas, de preferência, que é pra ter sombra e água fresca suficiente!

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